Autor: Richard Massari
Resumo – Ambientes multiprojetos que lidam com inovação de produtos são desafiadores. Sobreviver e acima de tudo gerar resultados significa antecipar-se à concorrência oferecendo mais e melhores produtos aos clientes e mercado, garantindo entregas mais rápidas ao menor custo possível. Mas como é possível entregar mais projetos com os mesmos recursos se nem mesmo as datas de lançamento originais são cumpridas? Para responder a estas questões, a Corrente Critica provê um conjunto de regras práticas que aumentam o desempenho dos projetos, ou seja, permitem que as organizações entreguem mais projetos, mais rápido e com maior confiabilidade de cumprimento dos prazos e escopo. Neste artigo apresentamos a Corrente Crítica e suas regras, implementadas com sucesso em empresas no Brasil e no Mundo.
(Palavras chaves: Corrente Crítica, Teoria das Restrições,
Desenvolvimento de Produtos, Projetos de Inovação)
Introdução
Ambientes
de inovação e desenvolvimento de produtos apresentam grandes desafios. Dentre eles
o “Time to Market” ou Tempo para o Lançamento. Muitas organizações trabalham
para lançar seus produtos em determinadas janelas de mercado, normalmente
atreladas a datas de consumo como Dia da Mães e Natal, estações do ano, feiras
do segmento, entre outras. Quanto maior a sintonia entre o lançamento e o
momento do mercado, maior será a lucratividade e retorno sobre o investimento
do novo produto.
Um
produto lançado tardiamente ou que perde sua janela de lançamento, pode estar
fadado ao fracasso enquanto seu concorrente mais ágil usufrui da liderança e
poneirismo, muitas vezes difícil de desbancar. Em determinados segmentos, a
vantagem competitiva é condição de sobrevivência.
Como
se não bastassem as pressões do mercado e do negócio, projetos de inovação são
cercados de incertezas. Lidar com o desconhecido, incertezas, recursos limitados e
ainda assim garantir o menor custo de produção, torna quase impossível a tarefa
de prever com precisão a duração e data de entrega de cada novo projeto.
Em
resumo, por um lado a organização é pressionada a firmar compromissos de
entregar mais projetos de inovação com menores prazos para atender a demanda
crescente do mercado, enquanto luta com todas as suas forças para manter a
competitividade num mundo globalizado. Por outro lado, apesar de todo o aparato
tecnológico e softwares robustos de gerenciamento, os projetos levam tanto ou
mais tempo que há dez anos atrás e muito frequentemente encontram-se atrasados,
acima do orçamento ou têm seus requerimentos e especificações cortados para cumprir
seus prazos originais.
Neste
ambiente de incertezas, fortes pressões por prazos e recursos limitados, as
práticas convencionais de gerenciamento de projetos não são suficientes. É
necessário uma nova abordagem e um conjunto de novas regras, que de forma
macro, traduzimos a seguir em nove passos ou lições.
1.
FOCANDO “EFICIÊNCIA DE TEMPO”, NÃO “EFICIÊNCIA DE RECURSOS”
Fazer
uso eficiente do tempo é a chave do sucesso em projetos, tanto na perspectiva
operacional quanto na de negócios.
DESEMPENHO OPERACIONAL - Quando os projetos ultrapassam o prazo, enfrentamos mais do
que somente atrasos. Os custos aumentam e, geralmente, há comprometimento no
escopo e na qualidade do projeto. Considere o seguinte:
·
Mesmo que os gerentes combatam o aumento dos
custos tornando os recursos mais eficientes, é fato e senso comum que quanto
mais tempo o projeto levar, mais recursos irá consumir. Focar na “eficiência
dos recursos” só aumenta a duração dos projetos, aumentando assim os custos.
·
Uma vez que os projetos apresentam atraso,
ações de aceleração e recuperação do tempo normalmente resultam em custos
adicionais.
·
Em organizações multiprojetos, tempo está
relacionado à capacidade de entrega. Ou seja, quanto mais rápido um projeto for
finalizado, mais rápido os recursos estarão disponíveis para um próximo
projeto.
É
tarefa árdua assegurar que os requerimentos do projeto, mercado ou cliente
sejam entendidos por todos, e que o trabalho seja feito com a qualidade
exigida. Porém, estes objetivos são facilmente comprometidos quando o projeto
está pressionado pelo tempo. Assim, ter o tempo suficiente na execução é vital
para a alta qualidade do projeto.
DESEMPENHO NO NEGÓCIO - Em desenvolvimento de novos produtos e inovação, quanto
mais rápido os projetos forem concluídos, maior será o valor entregue.
·
Com a diminuição do ciclo de vida dos produtos,
antecipar o prazo de lançamento significa obter preços mais altos e maior
participação de mercado. Em outras palavras, em projetos de inovação, quanto
mais tempo o projeto levar até o seu lançamento, menor será o “tempo de
prateleira” e os benefícios financeiros gerados.
Ainda,
negócios baseados em projetos podem converter seu alto desempenho de entrega em
vantagem competitiva, podendo até cobrar um prêmio por isso.
Porém
é frustrante, que apesar de todos os esforços, raramente os projetos terminam
no prazo, ficam dentro do orçamento e entregam o escopo completo. Nesta
situação, como podemos almejar fazer mais projetos mais rápidos, e na maioria
das vezes, com os mesmos recursos?
Infelizmente
a abordagem tradicional não traz os elementos necessários e suficientes para
equacionar e resolver tais questionamentos. É preciso mudar as regras de como
os projetos são operados – planejamento e execução. A mudança começa com o
seguinte reconhecimento: Tempo é o recurso
mais precioso em projetos de Desenvolvimento de Produtos e Inovação!
2.
COMO O TEMPO É DESPERDIÇADO DURANTE A EXECUÇÃO DO PROJETO
Porém,
como fazer projetos mais rápido quando é difícil cumprir até mesmo os prazos
atuais? Afinal, projetos estão cercados de incertezas: trabalho dura mais que o
planejado; questões técnicas surgem a todo instante; fornecedores atrasam;
aprovações atrasam; recursos não estão disponíveis como prometido; etc. Não
importa o quão cuidadosamente você planeje, sempre haverá surpresas na
execução!
No
entanto, um olhar mais atento revela que o verdadeiro problema não são as
incertezas, mas sim como as administramos.
PRÁTICA ERRÔNEA # 1: Começar os projetos o
mais cedo possível.
Gestores
de Portfólio liberam o início dos projetos o mais cedo possível na esperança de
aumentar as chances de entregar os projetos no prazo. Enquanto isso, Gerentes
de Projetos competem agressivamente por recursos compartilhados na esperança de
aumentar suas chances de garantir recursos para seus projetos. Na prática,
ocorre exatamente o inverso, ou seja, recursos se tornam escassos, as filas
aumentam e os projetos demoram muito mais do que deveriam.
PRÁTICA ERRÔNEA # 2: Gerentes tratam
estimativas de planejamento como compromissos de execução.
Isso
significa que para cumprir as estimativas (ou para aumentar significativamente
sua probabilidade de cumprimento), proteções individuais são embutidas às
duração das tarefas, na forma de tempo extra, a fim de absorver as incertezas e
variabilidades inerentes. Desta forma, o plano de projeto se torna mais longo.
No
entanto, na execução, enquanto a maioria das tarefas é concluída no prazo,
praticamente nenhuma tarefa termina antes. Isso é também conhecido como Lei
de Parkinson – quando a atividade se expande para preencher todo o tempo
disponível. Para piorar, algumas atividades levam mais tempo do que o
planejado, provocando um atraso no projeto inteiro! Em resumo, medir os
recursos pela entrega de suas tarefas no prazo, prolonga o projeto como um todo
sem aumentar seu desempenho de entrega.
PRÁTICA ERRÔNEA # 3: Ausência de prioridades
claras entre atividades na execução.
Sem
saber o que fazer e quando, recursos são arrastados para direções divergentes
enquanto os gerentes de projeto contribuem para esta confusão quando pressionam
os recursos a realizar multitarefa (trabalhar em novas atividades sem completar
atividades iniciadas de outros projetos). Ao invés de ajudar, a multitarefa
causa lentidão e impede os projetos de fluírem.
Tais
práticas resultam em um desperdício da capacidade em realizar projetos em torno
de 30-50%. Combater estas práticas significa liberar capacidade para fazer mais
projetos mais rápido e com os mesmos recursos.
O
método da Corrente Critica provê um novo conjunto de regras para gerenciar
efetivamente a execução de projetos.
REGRA 1: “PIPELINE”: Limitar o número de
projetos em execução com base nos recursos mais limitados.
Não
adianta carregar o sistema com mais projetos do que o recurso mais limitado
pode processar. Liberando mais projetos você pulverizará seus recursos e os
tornará ainda mais limitados. Reforce esta regra mesmo que isto signifique
deixar recursos ociosos.
O
“Pipeline” escalona os projetos liberando o trabalho de uma forma controlada e
ordenada, assim como as luzes de tráfego liberando os veículos em uma avenida.
Concentrando os recursos em poucos projetos, os projetos são completados mais
rapidamente e capacidade “escondida” é revelada, permitindo que a organização
entregue mais projetos.
O
escalonamento dos projetos permite que o tempo extra (antes dos projetos serem
liberados para a execução) seja usado para preparação ou “Full-Kitting”.
Finalmente, a organização tem um amplo tempo para adequadamente definir
estratégia de execução, discutir adequadamente o escopo e requerimentos, preparar
desenhos e especificações, obter aprovações, solicitar material, etc. Como
dizem, bem começado é meio caminho andado!
REGRA 2 : PULMÃO: a) Remover as proteções
escondidas nas estimativas das tarefas e permitir que elas atrasem. b)
Restituir as proteções ocultas em um pulmão explícito no fim do projeto e antes
de pontos de integração.
Estes
pulmões irão atuar como amortecedores, protegendo o projeto de eventuais
atrasos das tarefas. Esta regra irá gerar não somente planos de projeto mais
curtos (já que o pulmão do projeto é menor que o conjunto de seguranças
individuais das atividades), mas a execução em geral também será mais
eficiente.
REGRA 3: GERENCIAMENTO DO PULMÃO: Monitorar
o consumo dos pulmões para priorizar as atividades e prover sinais de alerta
antecipadamente.
Dar
a mais alta prioridade para atividades cujo ramo tenha a maior penetração no
pulmão a sua frente. Iniciar ações de recuperação nestes ramos se os pulmões
restantes estiverem abaixo de certo limite.
O
Gerenciamento do Pulmão pode também ser usado para esforços contínuos de
melhoria. Atividades e áreas que constantemente consomem a maioria do pulmão
precisam ser alvos de análises de causa raiz e melhorias.
4.
ATAQUE AS POLÍTICAS, NÃO OS COMPORTAMENTOS
Usada com sucesso por organizações de
diversos setores da indústria em todo o mundo, a Corrente Critica está
redefinindo padrões de desempenho para operações baseadas em projetos. É típico
um incremento de 20-40% na taxa de entrega com uma redução equivalente nas
durações dos projetos. Assim como, na habilidade para entregar projetos no
prazo, no escopo e no orçamento.
No entanto, é um mito considerar que para
aumentar o desempenho de projetos é necessário focar na mudança de
comportamento das pessoas (procrastinação, multitarefa, polimentos
desnecessários de serviços já terminados, etc.). A realidade e a prática
mostram que para mudar comportamentos é muito mais eficaz focar na mudança de
políticas. Em resumo:
1.
Substitua avaliações e
métricas que enfatizam a entrega de cada atividade no prazo por uma que
direcione para um baixo Volume de Trabalho ou WIP (Work-In-Process) em
execução.
2.
Torne mandatória uma
proteção de tempo mínima (PULMÃO) em cada projeto, normalmente 50% da soma das
atividades, para assegurar um fluxo ininterrupto de trabalho.
3.
Faça com que as datas
agressivas de entrega dos projetos sejam consensadas e validadas por todos os
envolvidos, podendo ser alteradas somente pela alta direção.
É possível obter inicialmente algum sucesso
focando única e exclusivamente o aspecto comportamental, mas o sucesso não
durará muito. Mudar comportamentos em grandes organizações pode levar uma
eternidade. Ao invés disso, institucionalize as novas regras de gerenciamento
baseadas na Corrente Crítica. Desta
forma, os comportamentos mudarão gradualmente em resposta às novas regras,
resultando em um melhor desempenho dos projetos.
5.
COLOCANDO A REGRA “PIPELINE” EM PRÁTICA
O
objetivo do “Pipeline” é concentrar os recursos em poucos projetos (ou fluxos
de trabalho). Seus benefícios são: menor escassez de recursos durante a
execução, maior foco dos especialistas e gerentes na resolução de problemas e
tarefas completadas mais rapidamente. Também permite fazer mais projetos com os
mesmos recursos já que o trabalho flui mais rápido com pouquíssimas
interrupções. Esta regra é tipicamente colocada em prática em duas fases:
FASE 1: Transição para baixo WIP
(Work-In-Process)
·
Congele temporariamente
25% dos projetos (carga de trabalho) em execução, tanto em relação ao número de projetos simultâneos em
execução, quanto nos pontos de convergência, como por exemplo, na etapa de
“integração e testes”.
·
Acelere os projetos
restantes usando um processo simples de priorização, como por exemplo, data de entrega. O projeto que termina
antes é o primeiro a receber os recursos. Os recursos restantes são
direcionados ao próximo projeto (escolhido por data de entrega) e assim por
diante.
·
Concentre os demais recursos remanescentes
no “Full Kitting” (preparação para a execução) dos projetos congelados. É
importante a distinção entre “Preparação” e “Execução” do projeto.
Tipicamente aprovação do cliente (interno e externo), documentação do projeto,
desenhos e materiais, etc. – atividades realizadas sem a interrupção do projeto
devem ser incluídas no “Full Kit”, enquanto atividades diretamente relacionadas
ao progresso do projeto deverão ser excluídas do “Full Kit”.
·
À medida que os
projetos em progresso forem completados, libere os projetos congelados um a um.
·
Evite a paralisia devido a análises.
FASE 2 : Estabelecendo um Processo de
“Pipeline”
·
Defina metas agressivas
de duração por tipo de projeto. Isso garante que os
projetos sejam planejados com recursos concentrados.
·
Decida qual o recurso
“tambor”. O ritmo do recurso tambor determina a
razão à qual os projetos podem ser completados (e liberados para iniciar) na
execução. Tipicamente a capacidade global de entrega é determinada pela
capacidade do recurso tambor nas etapas de “integração e testes”, devido ao
grande esforço gasto na sincronização dos recursos e na resolução dos problemas
encontrados nesta etapa. É possível, em raros casos, que um recurso ou fase à
montante da etapa de “integração e testes”, seja a restrição.
·
Estabeleça reuniões
gerenciais para determinar as prioridades dos projetos e os compromissos de
datas de entrega. É comum que um Programador Master (Master Scheduler)
dedicado seja designado para prover suporte analítico.
·
Feche o ciclo com um
processo de planejamento de recursos a fim de garantir que todos os demais
recursos estejam disponíveis. Isto pode
requerer a criação de uma flexibilidade adicional de recursos na organização
para suportar a execução do “Pipeline” planejado.
6. IMPLEMENTANDO A REGRA “PULMÃO” (PLANEJAMENTO DO PROJETO)
É
óbvio que cronogramas são necessários para prover prioridades de execução e
sinais antecipados de alerta. Porém muitas organizações falham em criar planos
de projetos úteis para a execução e ao mesmo tempo, gerenciáveis.
O que compreende um plano de projeto? Para ser completo, um plano deve conter:
·
Atividades com durações, tipos de recursos
(por habilidade) e unidades necessárias para sua execução;
·
Check-list (Instruções executáveis na forma
de lista) para as atividades (opcional);
·
Dependências (ligações físicas) entre as
atividades;
·
Gerentes de Tarefa (Task Managers), responsáveis
pelo gerenciamento e entrega de cada uma das atividades;
·
Pulmões (de convergência, do projeto e de
eventos “contratuais” e/ou “gates”);
·
Tipos de recursos (por habilidade) e unidades
máximas disponíveis para o projeto;
·
Data final do projeto e data dos eventos “contratuais”
e/ou “gates”.
Qual o nível requerido de detalhe nos
planos? Muitas atividades em um plano de projeto
induzem a multitarefa, tornando difícil a análise dos planos e dos consumos dos
pulmões, levando geralmente à perda de controle. Por outro lado, detalhes
insuficientes encorajam proteções desnecessárias que serão desperdiçadas na
execução (Lei de Parkinson), levando também à perda de controle.
Uma
atividade que dure menos de 2% do tempo total do projeto e uma que dure mais do
que 5% do tempo total do projeto têm que ter uma boa razão para estar no plano.
Se esta regra básica gerar tarefas que são muito longas, então você pode usar
subprojetos para ampliar em detalhes a atividade ao invés de adicionar tarefas
ao projeto principal.
Qual o processo para se criar bons planos de
projeto?
1.
(em ambientes
multiprojetos) Definir os objetivos de duração dos projetos baseado nos
objetivos de entrega do “Pipeline”.
2.
Comunicar à média
gerência que as pessoas não serão medidas na execução pela estimativa de
duração das atividades usadas no planejamento.
3.
Conduzir uma reunião de
trabalho - Workshop para obter o engajamento dos times de projeto e Gerentes de
Tarefa (Task Managers) nas três regras da Corrente
Crítica.
4.
Criar planos de projeto
básicos (sem pulmão).
5.
Converter cada plano de
projeto básico em um plano por Corrente
Crítica (com pulmões).
6.
Desafiar o time de
projeto sempre que a duração calculada do projeto não coincidir com a duração desejada
ou esperada, definida pelo “Pipeline”.
7.
Compartilhar o plano de
projeto final com todos os Gerentes de Tarefa (Task Managers) para que possam
entender suas atividades e o plano como um todo.
Lembrete:
·
Um plano de projeto não é um mecanismo de
acompanhamento para se reportar tempo ou esforço. O propósito de um plano é
prover prioridades claras para a execução e sinais antecipados de alerta.
·
Um plano de projeto não é um manual técnico
ou uma lista de coisas a fazer. Uma atividade representa um pacote de
trabalho. Não deve ser desdobrada somente porque requer diferentes recursos e
durações. Porém, deve ser desdobrada para determinados tipos “chaves” de
recurso, quando estes recursos são requeridos durante a quase totalidade da
duração da tarefa desdobrada.
·
Use preferencialmente
relações Término-Início (Finish-Start) para
definir e garantir passagens claras e precisas entre as atividades na execução.
·
Não modele ruídos como
“lead ou lag” ou recursos fracionados. Em um
mundo de incertezas, a realidade geralmente forçará mudanças no plano.
7. IMPLEMENTANDO O GERENCIAMENTO DE PULMÃO (PRIORIZANDO E GERENCIANDO TAREFAS)
Como discutimos anteriormente, a
ausência de prioridades no nível da tarefa é uma das maiores lacunas no
gerenciamento tradicional de projetos. Usando a REGRA 3 – Gerenciamento do Pulmão, podemos estabelecer
prioridades claras, uniformes e estáveis para as tarefas (tarefas que consomem
mais o pulmão recebem maior prioridade).
Neste
caso, como deve ser a gestão das tarefas?
1.
Reportando Duração Remanescente
Durante a execução,
os responsáveis pelas tarefas (Task Managers) fornecem estimativas diárias de quanto
tempo levará para terminar suas tarefas em andamento. Com esta simples
informação, podemos calcular o pulmão consumido por uma cadeia de tarefas, e
compará-lo com o trabalho realizado nessa cadeia. Esta relação é então usada
para calcular as prioridades das tarefas e fornecer aos Task Managers um
relatório de todas as tarefas atuais e futuras em ordem de prioridade.
(Tendências para
adiar e não reportar términos antecipados também são tratadas. Por exemplo,
quando a relação de consumo do pulmão é grande e visível a todos, os Task
Managers são automaticamente lembrados de reportar o progresso de suas tarefas)
2.
Alocação de Recursos
Os Task Managers
alocam os recursos às tarefas por ordem de prioridade. Se os recursos não são
suficientes para lidar com a totalidade das tarefas em vermelho (tarefas que
cruzaram o limite aceitável de consumo do pulmão), então, decisões como fazer
horas extras são implementadas.
3.
Preparação da Tarefa
Depois de cuidar das
tarefas em curso sob sua responsabilidade, os Task Managers voltam sua atenção
para as próximas tarefas. Eles se certificam de que todos os preparativos
necessários, como obter aprovações, desenhos, materiais, etc. estejam prontos
para que as tarefas possam ser executadas sem interrupção, quando elas chegarem.
4.
Resolução Rápida de Problemas
Ao interagir com os
recursos para atualizar as durações remanescentes, os Task Managers descobrem
problemas inesperados rapidamente. Eles agora têm a chance de resolver estes
problemas em tempo hábil e como parte da rotina, ao invés de agir como
bombeiros, combatendo incêndios próximos do final da tarefa ou do projeto.
5. Lembrete: Não Pressione os Recursos para Cumprir as Estimativas de
Planejamento. Caso contrário, você
logo estará de volta à estaca zero.
Implementar e reforçar o processo de
Gerenciamento de Tarefas é a chave para a melhoria sustentada do desempenho dos
projetos!
8.
IMPLEMENTANDO O GERENCIAMENTO DE PULMÃO (CONTROLES GERENCIAIS)
Discutimos a forma de priorizar e
gerenciar tarefas. No entanto, na maioria das vezes isso não é suficiente.
Mudanças de escopo, falhas técnicas e outras incertezas que não podem ser
tratadas ou sanadas no Gerenciamento das Tarefas, acontecem nos projetos. Desta
vez, vamos discutir como o Gerenciamento de Pulmão pode ser usado para gerenciar
tais incertezas.
Controle
do Projeto
Comparar a taxa de consumo de pulmão
(% consumida do pulmão) contra a taxa de progresso do projeto (% trabalho
concluído na cadeia mais longa) é a maneira confiável para avaliar a saúde do
projeto. Se o pulmão está sendo consumido a uma taxa menor do que a taxa de
progresso do projeto, isso significa que o projeto está no caminho certo e
vice-versa.
CLC ... Cadeia mais Longa Completada
DO ... Duração Original da Corrente Crítica
DR ... Duração Remanescente da Corrente Crítica
DO ... Duração Original da Corrente Crítica
DR ... Duração Remanescente da Corrente Crítica
PC ... Pulmão Consumido
PR ... Pulmão Remanescente
PO ... Pulmão Original
PR ... Pulmão Remanescente
PO ... Pulmão Original
CLC = (DO – DR)/DO
PC = (PO – PR)/PO
Se a razão entre a taxa de consumo do
pulmão e a taxa de progresso do projeto está muito alta, com a visibilidade das
cadeias mais críticas (em “vermelho”), então os gerentes de projeto podem
desenvolver e executar planos de recuperação para elas. Os planos de
recuperação podem consistir em itens como ajustes de escopo e horas
extraordinárias, bem como em soluções brilhantes para situações específicas.
Se PC/CLC ≥ 1, então cadeia crítica em
“vermelho” (alta prioridade)
Controle
do Portfólio
O Controle dos Projetos contribui para
que os gerentes de projeto mantenham sob controle os pulmões no âmbito de
projetos individuais. Este controle é suficiente quando apenas uma parte dos
projetos está no "vermelho". Mas, o que fazer quando a maioria dos projetos
está em atraso (no “vermelho”)? Neste caso, é preciso investigar a existência
de um problema raiz, mais sistêmico ou global em jogo que está afetando todos
os projetos do Pipeline. Esta é a etapa em que os gestores entram para tomar
decisões de alcance global como o congelamento temporário de alguns projetos, a
renegociação de datas de entrega, repriorização de projetos ou autorização de
horas extraordinárias.
Quando os gestores têm como um de seus focos
prioritários a conservação dos pulmões ao invés do combate a incêndios, eles
rapidamente percebem que, embora não seja possível eliminar todas as
incertezas, o caos não tem que ser o “modus operandi” em projetos.
9.
MELHORIA CONTÍNUA
Tendo descrito como colocar as regras
do planejamento e gerenciamento da execução em prática, podemos agora partir
para o santo graal da gestão de projetos, ou seja, como realizar e priorizar os
esforços de melhoria.
Análise
de Pulmão como guia para os Esforços de Melhoria
Uma análise histórica do consumo de
pulmão é o que precisamos para direcionar os esforços de melhoria. Se
registrarmos sistematicamente qual a ajuda necessária cada vez que uma tarefa é
paralisada, e periodicamente classificar e priorizar esses itens baseado em
quanto do pulmão de projeto foi consumido, podemos facilmente identificar os
alvos de melhoria.
Entender a causa raiz dos principais
itens classificados nos guiará para as soluções que precisamos. O enxugamento
de processos técnicos ou administrativos, implantação de ferramentas de
engenharia assistida por computador, melhoria na relação com os fornecedores de
ferramental, etc. Enfim, tudo pode ser priorizado usando esta abordagem.
Usando
a Análise de Pulmão para Decisões de Capacidade
Também podemos usar a análise de
pulmão para tomar decisões de capacidade. O que precisamos é de um relatório
agrupando os recursos da seguinte forma:
·
Grupo 1 - Recursos responsáveis
pelas grandes penetrações nos pulmões de projeto.
·
Grupo 2 - Recursos responsáveis
pelas penetrações parciais (50% ou mais) nos pulmões de projeto.
·
Grupo 3 - Recursos responsáveis
pela redução das grandes penetrações nos pulmões de projeto.
·
Grupo 4 - Recursos que não
contribuem para as grandes penetrações nos pulmões de projeto.
É óbvio que o incremento de recursos
para os Grupos 1, 2 e 3 acima irá encurtar os prazos dos projetos e criar
espaço para projetos adicionais.
(Quando os recursos são adicionados
com base na penetração do pulmão, conforme descrito acima, a lista de recursos
nas categorias mencionadas pode mudar. Portanto, é melhor aumentar a capacidade
de um tipo de recurso por vez. Em seguida, re-analise os pulmões, re-agrupe os
recursos e assim por diante).
Lembrete:
Certifique-se de que as regras da
Corrente Crítica para o planejamento e gerenciamento da execução foram
devidamente implementadas, antes de partir para a melhoria contínua. Em outras
palavras, o estado dos pulmões (todos os projetos no “vermelho” ou todos no
“verde”) pode significar a violação de qualquer uma das regras. Neste caso,
reavalie a implementação e caso necessário, re-estabeleça as regras conforme
descrito nos passos anteriores.
Referências
Bibliográficas
1.
REALIZATION
TECHNOLOGIES USA. Execution Management Minute. Edição 2009/2010 (www.realization.com)
2.
GOLDRATT,
Eliyahu. Corrente Crítica. Edição 1.
Nobel Editora, 1998
3.
GOLDRATT,
Eliyahu. A Meta. Edição 2. Nobel
Editora, 2003
Sobre o Autor:
Especialista em gestão de projetos com
o maior número de implementações da Corrente Crítica em toda a América do Sul.
Engenheiro Mecânico, MBA em Administração e Gestão de Projetos, certificado
pela Goldratt Schools em Teoria das Restrições. Iniciou sua trajetória em TOC
em 1986 quando ainda trabalhava na Garrett - uma das primeiras empresas a
implementar as metodologias do Dr. Goldratt no Brasil. Experiência nacional e
internacional na implementação da Corrente Crítica para o desenvolvimento de
novos produtos, projetos de TI, grandes paradas de manutenção e projetos de
capital / grandes obras em empresas como Vale, Votorantim, Embraco, Whirlpool,
Rio Tinto e Quattor (Petroquímica União), entre outras. Autor de artigos
publicados por revistas especializadas e palestrante convidado do PMI, Project
Flow (USA) e das principais instituições de MBA em Gerenciamento de Projetos.
Em 2005 foi o único brasileiro convidado a fazer parte de um programa intensivo
de especialização na área de IT Project Management, realizado em Seoul -
Coréia, ministrado pelo Korea Information Strategy Development Institute
(KISDI) com patrocínio do Banco Mundial.